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Quarta-Feira, 29 de maio de 2019

quando tudo parece piorar...

“Aonde a pele preta possa incomodar

Um litro de Pinho Sol pra um preto rodar
Pegar tuberculose na cadeia faz chorar

Aqui a lei dá exemplo mais um preto pra matar”

-Boca de Lobo, Criolo.

Os versos de Criolo lembram do episódio em que Rafael Braga, jovem trabalhador, catador de latinhas, foi preso em uma manifestação das jornadas de 2013 por portar produtos de limpeza. Fala também que além da condenação injusta, justificada somente pela cor de sua pele, Rafael ainda foi protagonista do descaso nas penitenciárias do Brasil, ao contrair tuberculose enquanto cumpria pena. Além do caso de Rafael, diversos episódios de injustiça social e corrupção são denunciados na letra e clip da música.

Boca de Lobo é um rap, que dentre tantos outros de Criolo, fala de questões políticas e sociais.  Mas não é só o rap que se ocupa de fazer protesto em forma de arte. A medida que as inquietações políticas aumentam, aumentam também as manifestações de libertação das amarras ideológicas. Grandes referências no Brasil surgiram, principalmente,  na época da ditadura militar. (Leia mais em: Arte em Tempos de Trevas)

Desde o fim da ditadura, o país (ainda) vive em uma democracia. Entretanto, uma crise mundial vem acirrando os contrastes sociais. O Brasil vive uma conjuntura de disputa política e ideológica que vem dividindo a população e inflamando os debates. Sobe o desemprego, as condições de vida pioram, as políticas de educação, saúde e segurança estão em processo de sucateamento e a repressão aumenta. É um momento em que surgem muitas inquietações e uma das formas genuinamente humana de se livrar das angústias é a arte.

 

Nesse contexto, Criolo não está sozinho. Muitos artistas vem ganhando a cena nacional. As pautas feministas, lgbts, do movimento negro, das favelas estão entre os temas mais abordados. Outra manifestação cultural que destacou-se no quesito engajamento foi o samba carioca. Esse ano, a campeã da sapucaí homenageou Marielle Franco na avenida.

Outro episódio ligado à música que gerou polêmica no Brasil foi o show do Roger Waters. O ex Pink Floyd utilizou, durante o espetáculo, uma projeção de imagens no fundo do palco deixando claro seu posicionamento contra o neofascismo. Na lista de líderes neofascistas: Jair Bolsonaro. Muitos que se diziam fãs de waters se revoltaram. Provavelmente eram “fãs” que não tinham uma boa compreensão do conteúdo das músicas do Pink Floyd.

Isso é arte engajada. O artista é um sujeito ativo e com intenções de transformação social por meio da sua forma de expressão, seja ela qual for. Música, fotografia, poesia, cinema, teatro, ilustração, entre outras formas de se expressar. Mesmo tratando de temas de cunho social, de situações de injustiça e indignação, a qualidade estética não é deixada de lado. A beleza e a força andam juntas levando adiante assuntos como injustiça, machismo, racismo, homofobia, corrupção, e outros.

Juiz de fora

Hoje, estão atuantes em Juiz de Fora grupos e movimentos artísticos/culturais. Alguns deles, participam ativamente da militância, estando presente nas manifestações políticas. É o caso da poeta Laura Conceição que viu na poesia uma oportunidade de externalizar sua indignação. “Esse processo de começar a escrever sobre as inquietações vem desde criança, pois meus pais são professores e eles sempre me conscientizaram muito sobre as questões sociais. Eu sempre fui em muitas passeatas e então eu sempre cresci muito indignada, precisando de certa forma, por pra fora. Quando eu descobri o hip hop, o rap e a escrita marginal, foi quando eu consegui canalizar tudo que eu pensava e por pra fora.”

As poesias de Laura são marcadas por temas que abordam o cotidiano das pessoas que têm suas vidas levadas à margem da sociedade. Por isso, a Poesia Periférica é a sua forma de escrita. Suas ideias surgem de diferentes formas, mas geralmente o desabafo é uma motivação para escrever. “Eu já comecei a escrever poesia em ônibus por que eu vi uma cena legal, em casa, na casa da minha vó... Não tem uma regra. Mas geralmente, quando eu começo a escrever eu estou indignada com alguma situação que aconteceu, alguma injustiça. Isso me fomenta a por pra fora”

Laura Conceição em Ato em Defesa da Democracia, Juiz de Fora, 27/10/2018 - Foto: Estela Loth
Hussan Fadel
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Tudo é atravessado pelo contexto histórico que a gente tá inserido.

Além de Laura, outros artistas Juizforanos, de diferentes segmentos produzem arte engajada. O grupo Corpo Coletivo também produz arte sem se isentar da política. Corpo Coletivo é um grupo de artistas pesquisadores que trabalham com espetáculos, oficinas formação e montagem teatral. O historiador Hussan Fadel é membro desse corpo e explica que “o nosso fazer tá atravessado pela radicalidade da forma, um fazer coletivo, de forma sempre cooperativa, colaborativa, tentando sempre abrir espaço para que outros artistas possam ocupar a nossa sede, por exemplo. Então isso tudo é presente pelo contexto”. Para Hussan, “Tanto no sentido da produção mesmo, os meio de produção, a forma de se enquadrar ou de achar um lugar dentro de uma cadeia econômica, essa relação de valor, valoração da arte... Tudo é atravessado pelo contexto histórico que a gente tá inserido.”

Obrigada!

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© 2019 por Estela Loth.

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